Quando eu fucei no Google usando o termo 'azulejo azul' em busca de imagens, não me questionei sobre a razão. Simplesmente queria criar um pingente quadrado de azulejo, porque achava bonito e pronto. Foi só mais tarde que fui "cavocar" e tentar entender o que o meu subconsciente estava trazendo à tona.
Azulejos azuis têm dois significados na minha vida: uma memória de infância, e o adeus de um longo amor.
A memória de infância: meus pais construíram uma casa em Esteio, no Rio Grande do Sul, nos fundos do quintal dos meus avós. Foi nessa cidade em que eu nasci, e nessa casa onde me criei até os 6 anos. O nosso banheiro era feito de - adivinhe! - azulejos. Honestamente não lembro se eram azuis ou verdes, ou se uma mistura das duas cores. Depois que o meu irmão nasceu, meus pais demoliram a casa e venderam a madeira (finalmente teríamos um terreno só nosso) - mas deixaram de pé o banheiro. Isso porque meus avós nunca tiveram um. (Banho para eles sempre fora de bacia, e havia uma 'patente' nos fundos, um quartinho minúsculo de madeira com um buraco, onde eventualmente meu pai instalou um vaso sanitário.) Então, onde costumava ser a nossa casa, agora era só terra, com um banheiro solitário. A minha memória mais forte desse lugar é de uma visita que fiz aos meus avós (uns 7, 8 anos de idade?). Acordei pela manhã e fui até esse banheiro de azulejos escovar os dentes. Lembro do cheiro do perfume do meu avô (devia ser um pós-barba) misturado com cheirinho de pasta dental Kolynos. Nada além disso aconteceu, só eu escovando os dentes, mas a memória ficou marcada na minha mente. A memória feliz de um tempo onde meus avós ainda eram vivos e estavam bem; memória de um tempo onde eu ainda podia visitá-los. E, claro, lembranças de uma infância linda. Anos depois a casa pegou fogo, meus avós há muito se foram, e hoje, com novos proprietários, o quintal está tão diferente que eu mal reconheço quando passo na frente. E embora eu não lembre a cor exata desses azulejos, eles sempre existirão dentro de mim, da mesma forma que vários cantos e detalhes daquele lugar.
A segunda memória: o adeus de um longo amor. Um casamento de dezesseis anos e meio, para ser exata. Eu e ele já havíamos nos separado por meio ano mas, apesar dos problemas mil, ainda tínhamos sentimentos um pelo outro, então decidimos tentar novamente. Logo após o reatamento fomos para a Cidade do México, onde a parte materna da família dele mora, e lá ficamos por 2 meses. Foi uma viagem linda, memorável. De repente, era como se todos os problemas tivessem ido embora! Pela primeira vez em muito tempo, estávamos nos divertindo juntos; a companhia um do outro era prazerosa, não dolorosa. Eu estava tão feliz! Daria tudo certo; o futuro imaginado que tínhamos perdido, era nosso novamente.
No centro histórico da cidade há um restaurante muito tradicional, muito antigo (sua construção começou em 1793) chamado Casa De Los Azulejos. For fora, claro, é revestido de - dlin dlin dlin! Você adivinhou corretamente! - azulejos azuis, o que torna o prédio bem distinto. Por dentro também é lindíssimo, com uma arquitetura de tirar o fôlego. Enfim, ele me levou a esse restaurante para um jantar, perto do Natal. Não lembro o que comemos (apenas que era algo tradicional mexicano), mas lembro do quanto feliz eu estava. Eu estava encantada com o lugar, e ainda mais encantada com o que ele representava: meu marido estava tentando me impressionar, me levando a um lugar especial, tão bonito, que significava algo para ele. Foi uma das últimas vezes que eu senti que ele ainda me amava.
Em breve voltamos à vida real (que naquela época era San Diego) e tudo que foi lindo por um tempinho curto, desandou novamente, dessa vez sem volta. Mais um ano e pouco veio a separação oficial e definitiva, e eu voltei para o Brasil.
Só que esse azulejo azul não é uma memória triste. Pelo contrário! Ele representa a memória feliz de sentir-me amada e apreciada, aqueles dois meses de viagem, que por si representa o último fôlego, o último respiro, a última alegria desse relacionamento. E se eu sinto-me grata pelas tristezas que tive na vida - afinal, elas me ensinaram muito - o que dirá pelas alegrias? Um brinde às alegrias!
E vocês? Têm alguma memória bonita associada a azulejos - azuis, ou de qualquer cor?
